Jogando a toalha

(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 13/01/2015)

“Prezado hóspede, a água é um recurso importantíssimo para a vida humana e nosso hotel tem um compromisso com a sustentabilidade. Caso não queira que suas toalhas sejam lavadas pedimos a gentileza que as deixe penduradas no banheiro. Toalhas deixadas no chão serão encaminhadas à lavanderia. Contamos com a sua colaboração e compreensão.”

Ah tá, sei!

Viajo muito, muito mais a trabalho do que a lazer e há alguns momentos que consigo unir as duas coisas. Já estive em bons hotéis, ou melhor, em hotéis de alto luxo e em hotéis literalmente em beira de estrada, daqueles de postos de gasolina. Em todos, sem exceção, me deparei com algum tipo de comunicado como o que inicio esta postagem.

Eu não tenho esse tipo de TOC.

A ideia é boa, na verdade a ideia é genial e ao mesmo tempo não é uma ideia nada mais do que o normal. Imagino que, salvo as pessoas que sofrem de algum tipo de TOC ou de alguma doença de pele ou de algo parecido, ninguém põe as toalhas de banho para lavar logo após um único uso. Alguns as deixam penduradas no banheiro, na porta do quarto ou então no varal mesmo, o que é extremamente comum na vida cotidiana.

Ora, se em casa costumamos deixar as toalhas penduradas secando por que não o fazemos quando estamos em hotéis? Acredito até que muitos o fazem, o que me surpreende é que muitos hotéis se contradizem em suas práticas.

Por experiência própria já me deparei com diferentes estabelecimentos onde eu, na minha eterna crise de consciência ambiental, deixei minha toalha pendurada esperando que ninguém a tocasse durante a minha ausência. Acontece que em geral, ao voltar para meu quarto no fim do dia, sou surpreendido por ver minha cama bem arrumada e com um novo par de toalhas sobre a cama em forma de ganso, concha ou um rolete mesmo.

Pior, se pego um sabonete de cortesia, que é suficiente para durar toda a minha estadia, não encontro o mesmo na pia ou no box do banheiro após a passagem da camareira. Há uma insistência em jogá-los fora e os substituírem por novos em embalagens lacradas, mesmo aqueles com pouquíssimo uso. Numa conta rápida, se fico 5 dias hospedado e separo um sabonete para as mãos e outro para o banho, serão 10 sabonetes utilizados. Um contrassenso para quem pede ao hóspede sua colaboração em relação a sustentabilidade. Sinto-me Melvin Udall de “Melhor Impossível”, o escritor que sofre de TOC interpretado por Jack Nicholson que a cada vez que lavava mão usava um novo sabonete. Posso ter muitos sintomas de TOC, mas não este com toda certeza.

Tenho cá minhas dúvidas se os hotéis não tomam estas atitudes de forma consciente, numa medida de precaução a possíveis insatisfações de sua clientela. Percebo por conversas com as mais variadas pessoas que o comportamento das mesmas em momentos de turismo é diferente ao do dia-a-dia, querendo ‘mimos’ por estarem pagando pela hospedagem, como se ao fazer o hotel gastar mais com lavagem de toalhas e trocas de sabonetes compensassem os seus gastos com as diárias. É como se estivessem perdendo dinheiro ao não impor ao hotel um gasto desnecessário.

Na verdade talvez seja só mais um reflexo de como nos comportamos de forma alienada quando nos tornamos turistas, ou de como há uma estratégia alienante no turismo mas isso é assunto para uma outra postagem.